por Fernando Lenzi*
Em uma reunião pedagógica do curso de Administração que leciono, uma discussão foi aberta sobre o perfil dos alunos de hoje, o comportamento em sala de aula e a convivência no ambiente universitário.
A discussão me fez refletir de imediato sobre esta nova geração que passo a chamar de geração instantânea. Uma geração imediatista que deseja que as coisas aconteçam num piscar de olhos e num “clic” de computador. Uma geração que não tem mais medo da mudança e tem uma nova dimensão do tempo e dos acontecimentos.
Talvez a pressão do ambiente de convivência ou do mercado de trabalho, ou talvez a ansiedade de querer tudo da mesma forma que uma pesquisa rápida na internet, faz com que os jovens amadureçam mais cedo pelo contato com as tecnologias e a liberdade globalizada. Por outro lado esta mesma tecnologia e liberdade globalizada estão mudando o perfil de amadurecimento e de educação.
O que pensar disso tudo? Parece um paradoxo de uma geração que vai viver mais, considerando a maior expectativa de vida da atualidade, mas que quer tudo de forma mais rápida possível.
Esta geração consegue tudo num “clic” e parece desejar já ter nascido com todas as habilidades e competências sem precisar desenvolvê-las. A geração instantânea tem, também, menos paciência de ficar nos bancos escolares para aprender dentro de um período necessário para o cérebro processar os diversos conhecimentos bombardeados e para digerir com o devido tempo as experiências que pode ainda ter pela frente.
Esta geração instantânea imagina que a vida deva ser um pacote de macarrão instantâneo onde, da decisão de comer até ter o macarrão pronto para saborear, demora apenas 3 minutos.
Esta geração não dedica mais tempo a pesquisas aprofundadas. Dedica mais tempo consultando superficialmente sites de busca do que descobrindo o conhecimento com profundidade. Para cada minuto de “clic’s” em um site de busca, tenho estimado pela minha observação que a geração instantânea economiza 10 horas de pesquisa. Porém, a mesma economia de tempo acaba gerando reflexos para evolução do pensamento. Ou seja, se a cada minuto se economizam 10 horas, isto significa dizer que o cérebro deixa de evoluir na proporção de 1 para 600 por hora. Portanto, podemos dizer que este comportamento cômodo de busca de informação superficial nos reduz em 600 vezes a evolução do nosso pensamento na fase de amadurecimento na educação.
Por um lado a pressão do mercado leva as facilidades, pois as empresas querem profissionais ágeis e que saibam tomar rápidas decisões. Mas não podemos confundir aprendizado rápido com tomada de decisão ou busca de informação rápida. É fato que as empresas precisam de profissionais ágeis e eficazes, mas a educação do indivíduo não mudou e deve ter um amadurecimento gradativo sem pular etapas. Um levantamento de informação superficial em sites de busca não pode substituir a boa e velha leitura exaustiva para pesquisa. A pesquisa em sites de busca pode ser também exaustiva desde que as diversas fontes sejam pesquisadas com profundidade. A pesquisa superficial está relacionada com a busca de informações apenas básicas.
Acredito que toda essa preocupação deva ser tema de maior preocupação entre especialistas, professores, educadores e pais. Vamos ficar mais atentos aos nossos jovens de hoje. O jovem de hoje não é mais o mesmo de 20 anos atrás e está seguindo uma onda contínua e sem volta. Cabe a nós reaprender a viver nesta nova onda.
O maior desafio é conseguirmos educar nossos jovens para o novo mercado, mas com um amadurecimento gradativo. Toda fruta que amadurece rapidamente perde o sabor e a originalidade. Nesta linha de ação surgem muitas iniciativas de educação à distância e a educação 2.0 que vem quebrando as barreiras desta distância e da superficialidade educacional.
Os alunos buscam formas mais interativas de aprendizado para que não necessitem ficar grudados diuturnamente em bancos escolares. Portanto, se por um lado o professor e o aluno acabam tendo uma distância física, por outro, a aproximação do aluno se torna ainda mais necessária para que o amadurecimento seja acompanhado e de fato orientado.
Um aparente problema de distanciamento pode se transformar em uma ótima oportunidade de conseguir uma educação mais centrada e eficaz com nossos jovens. Simplesmente deixar que nossos alunos aprendam sozinhos com as ferramentas é uma interpretação equivocada do lado positivo das ferramentas tecnológicas. As diversas ferramentas trazem uma facilidade muito grande, mas a presença do professor, tutor ou orientador são ainda mais desafiadoras.
Por isso, em uma geração instantânea precisamos de profissionais mais presentes e que na distância física saibam acompanhar com proximidade a nova forma de ser e de agir dos nossos jovens alunos para um amadurecimento consistente, ético e profissional.
* Fernando Lenzi é Doutor em Administração pela FEA/USP, Mestre em Administração, Especialista em Marketing, Administrador (CRA/SC 4543). Palestrante e autor de diversos artigos e livros na área de empreendedorismo, liderança e planejamento. Destaque para os livros: "A Nova Geração de Empreendedores" pela Editora Atlas, "O Empreendedor de Visão", pela mesma editora e o lançamento 2010: ¨Ação Empreendedora¨, pela Editora Gente com prefácio de Roberto Shinyashiki. Veja a apresentação do livro no Programa do Faustão, Clique aqui!
www.sejaprofissional.com.br
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